MÁRCIO MARINHO, DEPUTADO ESTADUAL E PATRONO DE HOSPITAL EM PARNAMIRIM

terça-feira, 2 de novembro de 2021

MARCIO DJALMA CAVALCANTI MARINHO

 



Marcio Djalma Cavalcanti Marinho nasceu em Natal, no dia 9 de janeiro de 1935 e faleceu em 1985. Foi quatro vezes deputado estadual, Presidente da Assembleia Legislativa com o apoio da maioria dos deputados. Como deputado estadual, Marcio Marinho prestou relevantes serviços, principalmente na Região Agreste do Estado aonde situava seu potencial eleitoral. Inteligente como seu pai, deputado Djalma Aranha Marinho, era advogado e foi líder do Governo e Presidente da Comissão de Constituição e Justiça. Marcio Marinho faleceu prematuramente aos 50 anos de idade. Seu sobrinho Rogério Marinho foi em 2006 Presidente da Câmara Municipal de Natal, e foi eleito deputado federal para substituir a cadeira que durante muitos anos pertenceu ao seu avô Djalma Marinho

 

# Márcio Djalma Cavalcanti Marinho - Deputado Estadual 1962

# Marcio Djalma Cavalcanti Marinho

 

Na definição do seu cunhado, ministro Francisco Fausto de Medeiros, o deputado Márcio Djalma Cavalcanti Marinho “ era um poeta que se fez político” . Tinha um temperamento ameno e, justamente por isso, convivia bem com todos os seus pares, apesar das divergências partidárias. Definiu com clareza a importância do Poder Legislativo, eminentemente político: “Esta é a Casa da convivência dos contrários”. Sua frase ainda hoje é repetida por parlamentares e jornalistas, sempre que seu nome é lembrado.

 

Participou dos movimentos estudantis do seu tempo, na extinta União Estadual de Estudantes (UEE). Fez parte de uma geração que marcou época em Natal: Varela Barca, Kerubino Procópio, Hênio Melo, José Mesquita, José Daniel Diniz, Eider Moura, Berilo Wanderley, Woden Madruga, Tota Zerôncio e Francisco Fausto Medeiros e tantos outros. Este último, mais tarde, tornou-se seu cunhado, casando-se com sua irmã Tânia Marinho.

 

Foi oficial de gabinete do governador Dinarte Mariz, que tinha por ele uma grande admiração e chamava-o de “Marcinho”. Em l958, pela UDN, disputa uma cadeira na Assembléia Legislativa, e se elege como um dos mais jovens parlamentares do Estado. Em 1961, concluiu o curso de Ciências Jurídicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, na antiga Faculdade de Direito, na praça Augusto Severo, n a Ribeira.

 

Engajou-se ativamente na campanha do seu pai, Djalma Marinho, ao governo do Estado em l960, quando foi derrotado pelo candidato da oposição, Aluízio Alves. A derrota machuca Márcio que, desencantado, afasta-se da política. Ainda foi acusado pela oposição, numa jogada de esperteza política, de que teria, supostamente, chamado de “gentinha”, o povo humilde de Natal, que acompanhava as passeatas do candidato da oposição. Márcio nunca assumiu ter feito essa declaração, tal qual foi explorada naquela campanha eleitoral.

 

Voltaria à política dezesseis anos depois, durante o governo Cortez Pereira, no curso do regime militar, quando se elegeu deputado pela legenda da Aliança Renovadora Nacional (Arena). Neste período estava “voluntariamente exilado” em Brasília, exercendo uma função burocrática como chefe de secção da Secretaria do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), na capital da República

 

O emprego foi conseguido pelo norte-rio-grandense Raimundo Macedo, que tinha sido defendido pelo advogado Djalma Marinho em l935, sob a acusação de ser comunista, fato comum naquele período de delação, quando a condição humana chegou à última baixeza. “Que me acusem de ser comunista porque defendo presos políticos, tudo bem. Agora, acusar Raimundo Macedo, é um absurdo”, disse na época Djalma.

 

O senador Dinarte Mariz conseguiu sua nomeação para juiz federal substituto, em pleno regime militar, durante o Governo Castelo Branco. O ato chegou a ser publicado no Diário Oficial da União. Márcio agradeceu o gesto solidário do senador, mas recusou o excelente cargo na magistratura federal.Achava-o incompatível com sua vocação política. Para o seu lugar foi nomeado o juiz Araken Mariz de Faria, atualmente desembargador federal aposentado.

 

Convidado pelo governador Cortez Pereira, em l972, retornou ao Estado sendo nomeado diretor da Companhia Telefônica do Rio Grande do Norte (TELERN), de onde se afastou para disputar um mandato eletivo. Nessa época, alicerçou sua candidatura à Assembléia Legislativa pela legenda do partido situacionista, a Aliança Renovadora Nacional (Arena).

 

ança Renovadora Nacional (Arena). Exerceu quatro mandatos de deputado estadual (l959 a l985), ocupando as mais importantes comissões, além de líder de governo e oposição. Chegou à presidência do Poder Legislativo em l982. Em face de afastamento eventual e simultâneo do governador e do vice, chegou a assumir o Governo do Rio Grande do Norte. Visitou Nova Cruz na condição de primeiro mandatário do Estado, numa homenagem à terra comum dos seus ancestrais. O deputado Djalma Marinho chamava a cidade de “minha fortaleza política”

 

Conseguia conciliar boemia, poesia e violão com a política. Não havia atritos entre suas preferências. Era um orador lírico. Geralmente falava com os olhos quase fechados. Gostava de fazer citações sem alterar o tom de voz. Cantava bem, acompanhando-se ao violão, velho parceiro das noitadas. Era freqüentador assíduo da pequena e aconchegante casa de veraneio de Augusto Severo Neto e Lucinha Beltrão, em Pirangi.

 

O que pouca gente sabe é que Márcio gostava de futebol e foi um excelente ponta esquerda, pertencente à seleção da UFRN. Seu pai, Djalma Marinho, foi meia esquerda do São Sebastião, de Nova Cruz. Apesar de terem jogado na esquerda, dentro de campo, preferiram o centro/direita, na política. Como a maioria dos jovens do seu tempo, Márcio serviu ao Exército como soldado. Chegou a ser promovido. No quartel era o cabo Cavalcanti. Desprovido de vaidade, nunca recortou a farda larga que cobria seu corpo magro. Por isso levou muitas broncas do seu comandante, o coronel Eider Mendes

 

Estatura baixa, franzino, vestido com modéstia, era uma figura afável. Falava manso olhando nos olhos do interlocutor. Logo cedo conviveu com os livros na vasta biblioteca do pai. Lá conheceu James Joyce, Victor Hugo e também Baudelaire, que o impressionou por toda a vida. Recebeu legado cultural de uma geração marcada pelo sentido profundo das idéias de Emanuel Kant e Frederic Hegell.

 

O amigo Sanderson Negreiros que freqüentou sua casa para ouvir curioso os ensinamentos do deputado Djalma Marinho, indicando autores e livros que devia conhecer e ler, disse que Márcio deixou um livro de poesias, inédito, que deveria ser editado pela Assembléia Legislativa, como forma de homenagear o deputado que dedicou os melhores dias da sua vida ao Poder Legislativo.

 

Quando esteve “exilado voluntariamente” em Brasília, distante do mar de Natal, Márcio Marinho tornouse colaborador assíduo do suplemento literário do “Correio Braziliense”, escrevendo crônicas e poesias, exercitando a criatividade e evocando nas lembranças as memórias sentimentais da sua cidade que conviviam diariamente com ele.

 

Era um apaixonado pela praia de Pirangi, à qual dedicou vários poemas enaltecendo sua beleza e confessando seu amor sem limites por ela. Dentre eles, este que publicamos: “O triste em Pirangi é que as manhãs passam/ O alegre em Pirangi é que as manhãs voltam / Homem tenha calma: assim não estarás a fazer um poema e sim um movimento. / Afinal, o que é importante em Pirangi?/ A tristeza ou alegria?/ Ah! Sim, Nisso concordamos: o importante em Pirangi é existir Pirangi./ Deixa a tristeza ou a alegria/ Para Emília movimentar”.

 


Outro poema de Márcio, em forma de prece, antevendo o encontro com Deus, na consumação dos seus dias.

Senhor, na minha agonia,

Deixa-me ficar à tua direita

Mesmo que eu tenha maiores dores

Quero ficar à tua direita.

Eu já descobri tudo:

Quem fica à tua direita Acorda sorrindo.

Nas farmácias não existe a tua voz.

Existem bulas estranhas, mandando ficar à esquerda

Mas, já decidi: quero ficar à tua direita.

Mesmo que eu grite o grito do corpo

E queira repetir os amores perdidos,

Quero ficar à tua direita.

Senhor, se eu fraquejar,

E no último instante, quiser fugir

Pára-me com um lembrado olhar

E ordena-me: Aqui, aqui à direita.

 

 

Integrou a chamada “bancada do Kazarão”, antigo bar-restaurante do mesmo nome, no bairro de Tirol, onde vários parlamentares se reuniam após as sessões no plenário da Assembléia Legislativa. Lá conversavam e decidiam os destinos daquela Casa. Seus freqüentadores mais assíduos, juntamente com Márcio Marinho, eram os deputados Alcimar Torquato, Willy Saldanha, Dalton Cunha e Carlos Augusto Rosado. Para se ter uma idéia do poder do grupo, três deles chegaram à presidência da Assembléia e assumiram, interinamente, o Governo do Estado: Alcimar Torquato, Márcio Marinho e Willy Saldanha

 

Na presidência da Assembléia Legislativa, criou os Departamentos Médico e Odontológico e a Biblioteca; inaugurou o restaurante e transformou a Consultoria Jurídica em Procuradoria Jurídica. Instituiu o setor de taquigrafia e reformou o Regimento Interno por meio da Resolução 004/83, com vigência a partir de 1984. Patrocinou o Sesquicentenário do Poder Legislativo com o lançamento dos livros Perfil Parlamentar e o Homem que Pintava Cavalos Azuis, este último de autoria de Diógenes da Cunha Lima, em homenagem ao deputado Djalma Marinho, deputado estadual constituinte em 1946

 

Márcio condenava o que chamava de “bolsões radicais” dos extremos – direita e esquerda – e sempre esteve afastado deles: “Não entendem ser a democracia a convivência dos contrários. A tolerância ante a discordância, conflito social legalizado e competição civilizada pelo poder; que o mais bem intencionado dos governantes não pode tudo; que só há diálogo quando todos puderem falar, e deve haver diálogo entre os que divergem; que só há federação quando os estados membros se sentem participando da vontade nacional”

 

Não fazia política pensando em gestos pequenos. Ninguém conhece uma atitude sua de mesquinhez contra alguém.Compartilhava com os companheiros as decisões tomadas. Era sensível a críticas e às vezes se machucava com elas, principalmente quando vinha de um amigo. Fazia da serenidade e do diálogo os instrumentos da sua atuação parlamentar

 

Sereno até nas críticas aos adversários, usava às vezes de discreta ironia, mas com o cuidado de não ferir o próximo. Gostava de contar estórias a respeito do amigo-irmão Hélio Vasconcelos, dos tempos da antiga Faculdade de Direito, velho sobradão na Ribeira, nas noitadas varando as madrugas pelos bares da cidade adormecida. Inventava estórias com pessoas de sua intimidade, como o hoteleiro Milson dos Anjos, conhecido como “Milson Andorinha”. Logo cedo, liga para o amigo e atende sua mulher, Rita. Márcio pergunta por “Andorinha”. Ela, reconhecendo a voz, diz bem séria. Márcio, o nome dele é Milson dos Anjos, entendeu? Do outro lado da linha, com a calma que lhe era peculiar, responde serenamente: “Não tem problema amiga, todos têm asas....” E deu uma gostosa gargalhada.

 

Sua paixão pela praia de Pirangi, onde tinha casa de veraneio, juntamente com toda a família Marinho, vinha do DNA. Certa vez perguntaram ao deputado Djalma Marinho quais as duas melhores coisas de Natal, e ele respondeu imediatamente: “ Câmara Cascudo e o mar de Pirangi.” Lá ficava o refúgio preferido de Márcio, em qualquer época do ano, até mesmo em pleno inverno. Era a sua Pasárgada como nos versos inesquecíveis de Manoel Bandeira.

 

Em Pirangi, hoje pertencente a Parnamirim, vestia-se à vontade, comprava peixe na praia, bebia com pescadores e recebia os amigos, quando não os visitava em casa, com o violão a tiracolo. Quase todos disputavam sua presença ao mesmo tempo. Tentou criar o município de “Praias Belas”, concentrando quase todas as praias da zona sul. Mas, infelizmente, seu projeto não obteve êxito, para sua frustração. Em Pirangi é nome de rua e hospital. Será sempre lembrado, principalmente; pelos moradores mais simples à sua semelhança. Nasceu em Natal no dia 09/01/1935 e morreu no dia 17/12/1985, no Rio de Janeiro

 

EXTRAÍDO DO LIVRO “RESGATE DA MEMÓRIA POLÍTICA”, DE AUTORIA DE JOÃO BATISTA MACHADO, NATAL-RN, DEPARTAMENTO ESTADUAL DE IMPRENSA, 2006, 452 PS. – 329

FONTE – FUNDAÇÃO JOSE AUGUSTO


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